Para Lula, mulher bonita é sinônimo de branca e loira? Uma reflexão sobre representatividade e padrões de beleza
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva [PT] causou polêmica nesta quarta-feira [12] ao se referir à ministra Gleisi Hoffmann como uma “mulher bonita” durante um discurso sobre a articulação política do governo com o Congresso.
A fala, que destacou a aparência de Hoffmann, descendente de alemães, branca e loira, reacendeu um debate importante sobre padrões de beleza, representatividade e a invisibilidade das mulheres negras em espaços de poder.
Ao escolher destacar a beleza física de Hoffmann, Lula, mesmo que de forma não intencional, reforçou um estereótipo que associa beleza a características eurocêntricas: pele clara, cabelos loiros e traços europeus. Esse padrão, historicamente enraizado na sociedade brasileira, exclui e marginaliza a diversidade de corpos, rostos e identidades que compõem o país, especialmente as mulheres negras, que representam mais da metade da população feminina no Brasil.
“É muito importante trazer aqui, o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Porque uma coisa que quero mudar, estabelecer relações com vocês. Por isso coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, porque não quero mais ter distância de vocês”, reforçou Lula
A pergunta que fica é: por que, ao pensar em uma “mulher bonita” para ocupar um cargo de destaque, a imagem que surge é a de uma mulher branca e loira? Por que não uma mulher negra, indígena ou de outras etnias que também são belas e competentes? A escolha de Gleisi Hoffmann, que é uma política experiente e capaz, não está em questão. O ponto central é a ausência de representatividade e a falta de reconhecimento da beleza e da capacidade das mulheres negras em posições de liderança.
O Brasil é um país plural, com uma riqueza cultural e étnica imensa, mas essa diversidade não se reflete nos espaços de poder. Mulheres negras continuam subrepresentadas na política, na mídia e em cargos executivos. Quando são mencionadas, muitas vezes é em contextos que reforçam estereótipos ou as colocam em posições de inferioridade. A fala de Lula, ainda que não tenha tido a intenção de excluir, acaba por reproduzir uma lógica estrutural que privilegia um padrão de beleza e existência que não contempla a maioria das brasileiras.
É urgente questionar por que mulheres negras, mesmo sendo tão presentes na história e na construção do país, ainda são invisibilizadas em discursos e ações que deveriam promover a igualdade. Por que não vemos mais nomes como os de Benedita da Silva, Marielle Franco ou Luiza Bairros sendo lembrados como exemplos de beleza, inteligência e competência? A beleza não pode ser reduzida a um padrão único, e a política não pode continuar sendo um espaço que reforça desigualdades.
Portanto, a discussão vai além da escolha de Lula. É sobre como a sociedade enxerga e valoriza as mulheres, especialmente as negras, que diariamente lutam contra o racismo, o sexismo e a falta de oportunidades. É sobre repensar padrões e construir uma narrativa que celebre a diversidade e a pluralidade de todas as formas de ser e existir. Enquanto a beleza for associada apenas a um único modelo, estaremos perpetuando uma exclusão que não condiz com a realidade de um país tão diverso como o Brasil.