Carlos CaroneMirelle Pinheiro

09/07/2022 2:37,atualizado 09/07/2022 9:43

No centro de escândalos sexuais envolvendo figuras religiosas, o Centro Bíblico de Brasília foi fechado pela igreja, em junho deste ano

padre Brás Costa à direita

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) cumpriu, na sexta-feira (8/7), em Santa Maria, mandado de busca e apreensão na casa de um enfermeiro acusado de tentar extorquir o cardeal de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa. O suspeito exigiu do arcebispo R$ 8 mil para não tornar público um escândalo dentro da Igreja Católica na capital do país. O profissional de saúde teria vídeos e fotos em que aparece mantendo relações sexuais com outros padres dentro do Instituto Bíblico de Brasília, na Asa Norte.

Na leitura dele, Dom Cezar iria aceitar fazer o pagamento a fim de evitar desgaste em sua gestão. No entanto, o cardeal negou qualquer tipo de acordo e levou o caso ao conhecimento das autoridades.

Equipes da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) apreenderam o celular e o computador do enfermeiro. Os equipamentos serão encaminhados ao Instituto de Criminalística (IC). Como o Metrópoles revelou em 22 de junho, o padre Brás Costa (foto em destaque) teria transformado as dependências do instituto em um motel.

Agora o enfermeiro é tratado como investigado, mas, na época, antes da PCDF saber da tentativa de extorsão, ele contou que frequentemente era “agradado” por Brás Costa, então conselheiro e professor de hebraico e latim do Instituto Bíblico, que acabou fechado em 12 de junho deste ano. Desde essa data, o pároco exerce suas funções eclesiásticas numa paróquia do Riacho Fundo.

O profissional de saúde contou que as primeiras abordagens vinham acompanhadas de elogios ao seu corpo atlético, além de apalpadas nos braços, nas nádegas e até no pênis dele. “Além do padre Brás, quase todos os seminaristas do instituto sabiam e muitos participavam das sessões de sexo. Eu acabei cedendo às investidas”, disse o rapaz, que é bissexual.

De acordo com o enfermeiro, havia uma espécie de pressão para que ele cedesse aos joguetes sexuais conduzidos pelo religioso. “Ficava muito claro que eu poderia perder o meu emprego caso não aceitasse. Acabei mantendo relações sexuais com esse padre durante dois anos. Isso acabou com a minha vida: tive depressão e até tentei suicídio”, relatou.

Ele ainda revelou que não havia dia nem hora para realizar os desejos sexuais do clérigo. As transas ocorriam dentro dos quartos, nos banheiros, corredores e até depois da celebração de missas, sempre dentro do prédio cristão. “Tudo era combinado pelo WhatsApp e, em alguns momentos, eu recebia dinheiro do padre Brás.”

A coluna teve acesso a uma série de trocas de mensagens travadas entre o padre e o enfermeiro. Dezenas de fotos de órgãos genitais eram enviadas por ambos. Por essa razão, alguns trechos foram borrados.

O que diz o padre

Procurado pelo Metrópoles para comentar as denúncias, padre Brás Costa negou que tivesse mantido relacionamento sexual com o enfermeiro dentro ou fora do Instituto Bíblico de Brasília. Segundo o pároco, o rapaz tentou chantageá-lo. “Ele prestou serviço no instituto e, há alguns meses, quis me extorquir com essas fotos. Como não cedi, ele procurou a imprensa”, defendeu-se.

Confrontado com o vídeo em que ele elogia o pênis do enfermeiro, o padre respondeu à coluna que “só disse que [o pênis dele] era bonito”. Em seguida, o pároco encerrou a conversa, garantindo que colocaria seu advogado em contato com a equipe do portal.

Arquidiocese se manifesta

Procurada para comentar as denúncias entregues à Cúria, a Arquidiocese revelou já ter se posicionado em relação ao caso. Uma das primeiras deliberações foi pedir ao bispo da Diocese de Lugano, na Suíça, que tome providências “pela situação canônica e religiosa”. Tal medida se justifica devido ao fato de Brás Costa ter sido ordenado padre no país europeu.

Leia a nota na íntegra da Arquidiocese de Brasília:

“O Sr. Arcebispo Dom Paulo Cezar Costa tomou conhecimento acerca da situação do Instituto Bíblico de Brasília.

Diante das circunstâncias que conheceu, considerando tradições e peculiaridades próprias da Igreja Católica, instituiu a Visita Canônica ao referido Instituto no mês de novembro de 2021, designando responsáveis para apurar eventuais irregularidades, de modo que pudesse decidir a respeito do futuro institucional da entidade, cujo resultado foi ‘encerrar as atividades’.

Quanto aos fatos apontados pelo Sr. F., importante dizer que a Arquidiocese de Brasília, na pessoa do Sr. Arcebispo o acolheu, ouvindo suas declarações e lhe prestando assistência, encaminhando as providências próprias que lhe cabe no âmbito religioso.

Entretanto, no que toca ao sentimento de assédio por parte do denunciante, não cabe a Igreja trazer definições. Pois aquele que se sentir lesado em sua honra tem o direito de buscar o Poder Judiciário para sanar o dano que supostamente lhe tenha sido causado por outrem. Recomenda-se que o denunciante busque solucionar esta situação perante a Justiça Civil do País, isso porque foge a jurisdição canônica da Igreja.

Quanto ao Pe. Brás Ivan Costa Santos, importante destacar que ele não faz parte do Clero de Brasília, dessa forma, a responsabilidade pela situação canônica e religiosa do padre compete ao Bispo da Diocese de Lugano, na Suíça, onde o mesmo foi ordenado padre e se encontra incardinado.

Dom Paulo Cezar já pediu providências ao Bispo de Lugano, na Suíça, informando sua decisão contrária à permanência do Pe. Brás Ivan no território da Arquidiocese de Brasília. Além disso, o Arcebispo de Brasília continuará empenhando todos os esforços, dentro de suas competências canônicas, para resolver a situação.”