29 de Abril de 2020

Representação do sistema de saúde britânico comunicou ‘aparente aumento’ de casos similares a um choque, e que pode dessa vez ter relação com o novo vírus, em pacientes de pouca idade

Médicos britânicos receberam um alerta recente para que fiquem atentos a uma rara mas perigosa reação do organismo em crianças e que pode ser causada por uma infecção pelo novo coronavírus.

Um documento de urgência foi enviado pela representação do NHS (National Health Service, o serviço público de saúde do Reino Unido) a clínicos gerais alertando que unidades de terapia intensiva (UTI) em Londres e outras partes do país passaram a registrar um “aumento aparente” de casos graves de crianças com sintomas atípicos.

Eles correspondem a uma “inflamação multissistêmica” e incluem sinais semelhantes aos de uma gripe.

Algumas destas crianças, mas não todas, testaram positivo para o coronavírus.

Ainda não se sabe precisamente quantas crianças apresentaram esta reação, mas acredita-se que seja um número pequeno.

“Foi somente nos últimos dias que ficamos sabendo destes relatos. Pedimos a nossos especialistas que olhem para isto com urgência”, afirmou Stephen Powis, diretor médico do NHS Inglaterra, afirmou.

De acordo com o documento, há “uma preocupação crescente” de que a síndrome inflamatória esteja relacionada ao novo coronavírus ou que haja uma outra infecção, ainda não identificada, por trás dos casos.

Um dos sintomas observados em casos de crianças inglesas sob análise foram as erupções cutâneas

Um dos sintomas observados em casos de crianças inglesas sob análise foram as erupções cutâneas. Foto: Getty Images

Corpo sobrecarregado

Estes pacientes novos, com idades variadas, tinham quadros bastante graves. Sua situação era semelhante a de pessoas acometidas pela chamada Síndrome do Choque Tóxico, que pode incluir temperatura corporal alta, pressão arterial baixa, erupção cutânea e dificuldade em respirar.

Algumas das crianças também apresentaram sintomas gastrointestinais, como dor de barriga, vômito e diarreia; inflamação no coração; e parâmetros anormais no exame de sangue.

Segundo especialistas, são manifestações de quando o corpo fica sobrecarregado tentando combater uma infecção.

O comunicado alerta que esses casos precisam de tratamento urgente.

Mas, se houver mesmo vínculo com o coronavírus, especialistas enfatizam que muitas poucas crianças ficam gravemente doentes com a covid-19. Evidências de todo o mundo mostram que elas são o grupo da população menos afetado pela doença.

Nazima Pathan, consultora em terapia intensiva pediátrica em Cambridge, afirma que colegas na Espanha e Itália já relataram casos semelhantes: “Algumas crianças apresentaram um quadro semelhante a um choque séptico e com erupções cutâneas — o tipo de quadro esperado em uma Síndrome do Choque Tóxico e na doença de Kawasaki (que afeta os vasos sanguíneos e o coração).”

“Em geral, as crianças parecem ser mais resistentes a infecções pulmonares graves após a exposição ao coronavírus, e os números delas em UTIs são relativamente baixos”.

Segundo um porta-voz do NHS Inglaterra, há registros de menos de 20 casos desses no país e ainda não foi estabelecido um vínculo com o coronavírus, mas investigações continuarão.

O Colégio Real de Pediatria e Saúde Infantil (RCPCH, na sigla em inglês) declarou que os pais devem ficar tranquilos com estes novos relatos mas, caso estejam preocupados com a saúde de seus filhos por qualquer motivo, devem procurar serviços de saúde.

Embora o coronavírus possa infectar crianças, ele raramente leva a quadros graves. Se o seu filho adoecer, é provável que seja por alguma outra doença que não a covid-19.

O RCPCH aconselha os pais a procurar ajuda urgente se a criança:

Estiver pálida, com manchas ou sentindo um frio anormal;

Tiver interrupções na respiração, um padrão respiratório irregular ou grunhidos;

Tiver dificuldade grave em respirar, ficando agitado ou apático;

Apresentar lábios rodeados por uma coloração azulada; Passar por um ataque ou convulsão;

Apresentar erupções cutâneas que não desaparecem com pressão local;

Tiver dor testicular, especialmente em meninos adolescentes.

Michelle Roberts Editora de saúde da BBC News online. Todos os direitos reservados.

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