‘A Lista de Bolsonaro’: PF revela nomes monitorados pela Abin paralela

Um relatório da Polícia Federal (PF) revela que uma estrutura clandestina de inteligência operou no coração do governo Jair Bolsonaro, com foco político e uso indevido da máquina estatal. Conhecida como “Abin paralela”, a organização teria monitorado ilegalmente autoridades dos Três Poderes, jornalistas, servidores públicos e até aliados do próprio ex-presidente.

A investigação aponta que a estrutura foi coordenada a partir do gabinete do então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem – hoje deputado federal –, com apoio direto do chamado “núcleo político” bolsonarista. Segundo a PF, o principal destinatário das informações obtidas de forma ilegal era o próprio Jair Bolsonaro.

O relatório foi tornado público por decisão judicial e traz uma lista de mais de 150 pessoas vigiadas. As ações incluíam espionagem política, criação de dossiês e uso abusivo de ferramentas de rastreamento em tempo real, como o sistema “First Mile”, projetado originalmente para o combate ao crime organizado.

Entre os alvos da Abin paralela estão ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso; políticos de diferentes espectros, como Renan Calheiros, Fernando Henrique Cardoso, Kim Kataguiri, Joice Hasselmann, Rodrigo Maia, Jean Wyllys e o governador Cláudio Castro, aliado do próprio Bolsonaro; além de jornalistas como Reinaldo Azevedo, Mônica Bergamo e Vera Magalhães. Até mesmo o humorista Gregório Duvivier e Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro, constam na lista.

A PF identificou ao menos 60 mil consultas ilegais ao sistema de geolocalização sem ordem judicial. Os dados colhidos serviam para ações de monitoramento, intimidação, difamação e, conforme indicam mensagens internas, para “achar podres” de opositores e montar dossiês políticos.

A investigação resultou no pedido de indiciamento de 36 pessoas, incluindo Carlos Bolsonaro, vereador e filho do ex-presidente, e o próprio Alexandre Ramagem. Os crimes atribuídos incluem:

  • Organização criminosa

  • Interceptação telefônica clandestina

  • Invasão de dispositivos informáticos

  • Violação de sigilo funcional

  • Obstrução de justiça

  • Corrupção e prevaricação

A lista divulgada expõe o caráter sistemático e institucionalizado da espionagem política em pleno funcionamento do Estado brasileiro, transformando a Abin – órgão de inteligência da Presidência da República – numa central de vigilância ilegal a serviço de um projeto de poder pessoal.

Veja abaixo alguns dos nomes monitorados pela Abin paralela:

Políticos

  • Fernando Henrique Cardoso – Ex-presidente

  • Renan Calheiros (MDB-AL) – Senador

  • Randolfe Rodrigues (PT-AP) – Senador

  • Alessandro Vieira (MDB-SE) – Senador

  • Omar Aziz (PSD-AM) – Senador

  • Rodrigo Maia (sem partido-RJ) – Ex-deputado

  • João Doria – Ex-governador de SP

  • Cláudio Castro (PL-RJ) – Governador

  • Ricardo Barros (PP-PR) – Líder do governo Bolsonaro na Câmara

  • Joice Hasselmann, Kim Kataguiri, Paulo Pimenta, Jean Wyllys, entre outros

Ministros e magistrados

  • Alexandre de Moraes – STF

  • Gilmar Mendes – STF

  • Luís Roberto Barroso – STF

  • Ney Bello – TRF-1

  • Márcia Santos Capanema – Juíza

Jornalistas

  • Reinaldo Azevedo

  • Mônica Bergamo

  • Vera Magalhães

  • Alice Martins

  • Luiza Bandeira

  • Roberto Pedro

  • Christophe Deloire – Repórteres Sem Fronteiras (falecido em 2024)

Outros monitorados

  • Ana Cristina Valle – Ex-esposa de Bolsonaro

  • Jair Renan Bolsonaro – Filho do ex-presidente

  • Gregório Duvivier – Ator e humorista

  • Nelson Jobim – Ex-ministro do STF e da Defesa

As revelações sobre a Abin paralela colocam Jair Bolsonaro e seu entorno mais próximo no centro de um dos maiores escândalos de instrumentalização do Estado brasileiro desde a redemocratização. A lista dos monitorados é mais que um documento técnico: é o retrato do uso político da inteligência estatal contra adversários e até contra aliados suspeitos de infidelidade.