09 de Junho de 2020

OMS

Maria van Kerkhove, chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde, em transmissão nesta terça-feira, 9 de junho

“Absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo’, afirma OMS por meio da representante do programa de emergências da organização, Maria van Kerkhove, nesta segunda (08), e, que esse tipo de contágio ‘parece ser raro”.

“A maioria das transmissões que conhecemos ocorre por pessoas com sintomas que transmitem o vírus por meio de gotículas infectadas. Mas há um subconjunto de pessoas que não desenvolvem sintomas”, afirmou.

“Para realmente entender quantas pessoas não têm [os sintomas], pois ainda não temos essa resposta, existem algumas estimativas. Elas sugerem que entre 6% e 41% da população podem estar com o vírus, mas não apresentar os sintomas.”

“Acho que é um mal-entendido afirmar que uma transmissão assintomática globalmente é muito rara, sendo que eu estava me referindo a um subconjunto de estudos. Também me referi a alguns dados que ainda não foram publicados, e essas são as informações que recebemos de nossos Estados-Membros”, Maria van Kerkhove

Kerkhove citou dados de países com grande capacidade de testagem e rastreio. Além disso, ela disse que, em alguns casos, quando uma segunda análise dos supostos casos assintomáticos é feita, descobre-se que os pacientes tiveram, na verdade, leves sintomas da infecção.

A declaração da chefe do programa de emergências foi criticada por pesquisadores por ter soado ambígua.

Entre os críticos que ajudaram a esclarecer o pronunciamento esteve o diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Harvard, Ashish K. Jha.

O pesquisador da universidade norte-americana argumentou no Twitter que infectados que não apresentam sintomas são uma forma importante para a transmissão da Covid-19. Ele explicou que apenas 20% dos infectados não desenvolverão nenhum sintoma. Os outros 80% poderão desenvolver sintomas leves ou mais duros da doença.

“Muitos deles já espalham o vírus antes de desenvolver sintomas”, disse Jha. “Eles são, tecnicamente, pré-sintomáticos e não assintomáticos.”

O pesquisador de Harvard ponderou que a OMS diferencia os dois casos e ressaltou que há mais casos de indivíduos pré-sintomáticos do que de assintomáticos.

Assintomáticos x pré-sintomáticos

Uma pessoa com o Sars CoV-2 assintomática nunca deverá desenvolver os sintomas da Covid-19, sendo que os mais comuns são febre, tosse e dificuldade para respirar. Um paciente pré-sintomático também está com o vírus em circulação no corpo, mas no período de incubação, prestes a desenvolver os sintomas dentro de alguns dias.

Natália Pasternak, bióloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), PhD com pós-doutorado em Microbiologia, também esclareceu este ponto em comentário. Ela diz que “assintomáticos são aqueles que testam positivo, mas nunca chegam a desenvolver os sintomas. E como sabemos disso? Porque os testamos repetidas vezes, eles continuam positivos, mas sem sintomas”.

“Tem também aquelas pessoas com sintomas leves, mas que não correlacionam isso com doença, e como sintoma é subjetivo, já viu a confusão que isso pode causar. Então, primeiro já fica obvio que não é tão simples assim determinar quem é pré-sintomático ou com sintomas muito leves”.

“Outra coisa importante: os pré-sintomáticos transmitem antes e durante os sintomas, e os sintomáticos leves transmitem o tempo todo sem perceber. E os assintomáticos? Não sabemos!”, completou.

A pneumologista e pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcomo também falou sobre o assunto em entrevista à Globo News (assista ao vídeo acima).

“Atrelar esta informação dada hoje pela OMS que pode ser revista daqui a 48 horas, dado que os estudos estão sendo feitos, a uma abertura generalizada das coisas, isso é imprudente. Muito imprudente. É uma interpretação que eu diria precipitada, no mínimo. Não pode ser atrelada uma coisa a outra”, disse a cientista.

Dalcomo diz que uma coisa é um “estudo científico de comunidade, um estudo imunológico que vai estudar grupos de pessoas e vai publicar para que nós possamos entender e revisar. Outra coisa é fazer disso, uma decisão de natureza administrativa”.

Estudos ainda a caminho

O que Maria van Kerkhove estava tentando explicar era justamente este ponto ainda em estudo, o que ainda não sabemos. Como funciona a transmissão de pacientes que nunca irão desenvolver os sintomas? O ponto importante de entender é que as pessoas com Covid-19 ainda no início da infecção, em fase pré-sintomática, são capazes de passar o vírus para outras pessoas.

Horas depois da declaração, em seu perfil no Twitter, Kerkhove reforçou justamento que há essa diferença entre pacientes assintomáticos e pré-sintomáticos. Além disso ela recomendou a consulta ao guia da OMS publicado na sexta (5), que trata do uso de máscaras para a proteção.

No documento, a entidade diz que “estudos mais abrangentes sobre a transmissão de indivíduos assintomáticos são difíceis de conduzir”, mas cita um trabalho como exemplo. A pesquisa aponta que, entre 63 indivíduos assintomáticos estudados na China, havia evidências de que 9 (14%) infectaram outra pessoa.

No mesmo documento, a OMS alerta: “Os dados disponíveis até o momento, que tratam de casos de infecção em pessoas sem sintomas são decorrentes de um número limitado de estudos com pequenas amostras que estão sujeitas a revisões e não podem dizer se eles carregam a transmissão.”

Com informação do G1