Show de um milhão: prefeito ganha palanque, Safadão embolsa fortuna e o povo aplaude
Enquanto escolas e postos de saúde seguem enfrentando carências básicas, a Prefeitura de Maceió desembolsou R$ 1,2 milhão em dinheiro público para garantir 1h40 de Wesley Safadão no palco do São João Massayó 2025 — o maior cachê do evento. Em troca, o cantor ofereceu declarações apaixonadas ao prefeito João Henrique Caldas [PL], o JHC: “Meu prefeito e futuro governador, eu te amo, caralho.”
A declaração foi a cereja no bolo de uma apresentação recheada de elogios ao gestor municipal, citado com entusiasmo ao menos cinco vezes por Safadão. A plateia, claro, aplaudiu. Afinal, o show era de graça. O custo? Dividido entre todos — inclusive os que não puderam estar ali porque trabalham em três turnos para pagar o gás.
JHC, hoje prefeito, é apontado como pré-candidato ao governo de Alagoas em 2026. Enquanto o futuro político se desenha embalado ao som do forró pop, a gestão atual se destaca por contratos milionários feitos por inexigibilidade de licitação. Prática legal, sim. Moral? Fica a critério de cada consciência [e do volume da caixa de som].
O cachê pago em Maceió é o dobro do que Safadão receberia em 2022 em Viçosa [R$ 600 mil] — até que a Justiça cancelou o evento por considerar “incompatível com a dignidade mínima dos cidadãos.” Três anos depois, a capital estadual dobra a aposta, e ninguém cancela nada. Ao contrário: se encanta.
O Ministério Público já questionou contratos similares em outras cidades, como Campinas (SP), onde os valores chegam a ultrapassar em 78% a média de mercado. Mas a farra segue — animada, popular e eleitoralmente conveniente.
Em nota, a Prefeitura justificou o valor dizendo que Safadão é “um dos principais artistas brasileiros” e que participa de eventos em outras cidades. Em outras palavras: se todo mundo está fazendo, por que Maceió não faria?
O show terminou. O cachê foi pago. O prefeito sorriu. O povo dançou. E o Brasil, mais uma vez, provou que o escárnio com o dinheiro público só é possível com a cumplicidade de quem deveria estar indignado.