O sino Vox Patris: o som que não alimenta os famintos

Foto: Santuário Pai Eterno

Opinião S&DS

Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber.” (Mateus 25:42)

Goiânia – O que Jesus faria com R$ 18 milhões? Certamente não mandaria fundir um sino de bronze de 55 toneladas. Faria multiplicar pães e peixes. Alimentaria os pobres. Curaria os enfermos. Acolheria os rejeitados. A pergunta que ecoa mais alto que qualquer badalada do sino que poderá ser ouvido a mais de 10 quilômetros de distância ao som de cerca de 120 decibéis. é: Vox Patris ou voz do ego humano?

Neste domingo de 1º de junho, chegou ao Santuário da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), o sino Vox Patris — aclamado como o maior sino em atividade do mundo. Produzido na Polônia e transportado por mais de 10 mil quilômetros até Goiás, o artefato custou R$ 18 milhões, valor suficiente para fornecer mais de 3 milhões de refeições populares ou construir centenas de casas para famílias em situação de vulnerabilidade.

Anunciado como homenagem à fé, o sino se torna um símbolo de contraste com os ensinamentos de Cristo, que não acumulava riquezas nem investia em aparências, mas vivia entre os humildes e os pobres. Quando Maria ungiu os pés de Jesus com um perfume mais caro para a época, foi Judas quem reclamou do desperdício. Mas ao menos ali havia adoração genuína. E aqui?

Cristo, que expulsou os vendilhões do templo, certamente lamentaria o uso de doações sagradas em um objeto tão opulento. Ainda mais sob suspeita de superfaturamento, como apurou o Ministério Público de Goiás. A Afipe, presidida pelo Padre Robson de Oliveira à época, declarou inicialmente que o sino custaria R$ 6 milhões. A investigação revelou que o valor real foi três vezes maior. O escândalo ficou conhecido como Operação Vendilhões, numa alusão direta à denúncia de comercialização da fé.

Jesus advertiu: “Não ajunteis tesouros na terra” (Mateus 6:19). E ainda: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e cobiça.” (Mateus 23:25).

A fé verdadeira não precisa soar alto em bronze, mas sim ecoar no silêncio da caridade. O Pai Eterno não precisa de sinos monumentais. Precisa de corações contritos, mãos estendidas e pão dividido. O som que agrada aos céus não é o de uma peça fundida em metal, mas o da justiça fluindo como um rio (Amós 5:24).