Saúde em primeiro lugar: com os R$ 26 milhões da Virada Cultural, gastos em 24h, São Paulo poderia construir 5 novas UBSs

O slogan da Virada Cultural 2025, “20 anos em 24 horas”, soa grandioso — e é. Mas revela, também, um contraste gritante entre espetáculo e estrutura. Em um único dia, a Prefeitura de São Paulo gastou R$ 26 milhões com cachês artísticos. O suficiente para construir cinco Unidades Básicas de Saúde, que atenderiam a população durante 20 anos, 24 horas por dia

Editorial 

Saúde em primeiro lugar: com os R$ 26 milhões da Virada Cultural, São Paulo poderia construir 5 novas UBSs

A Virada Cultural é, sem dúvida, um dos marcos da cena artística brasileira. Democrática, diversa e acessível, movimenta ruas, palcos e afetos. Mas, em uma cidade como São Paulo — que enfrenta filas intermináveis por atendimento básico, unidades de saúde saturadas e carência de infraestrutura pública — a pergunta que não quer calar é: qual é a real prioridade da gestão municipal?

Neste fim de semana [24 e 25 de maio], a Prefeitura de São Paulo destinou R$ 26 milhões apenas para cachês artísticos da Virada Cultural. Com esse montante, seria possível construir cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS) do tipo II, cada uma com capacidade para atender milhares de paulistanos por mês.

Nova UBS de Porte 2

A conta é simples e oficial: cada UBS tipo II custa cerca de R$ 5,5 milhões, segundo parâmetros técnicos utilizados por diversos entes da federação. Com cinco novas unidades, bairros periféricos sem cobertura adequada de saúde básica poderiam ganhar consultórios médicos, odontológicos, salas de vacinação, serviços de enfermagem, farmácia, coleta de exames e atendimento contínuo à população — o verdadeiro alicerce do SUS.

Não se trata de desmerecer a cultura, mas de ponderar prioridades. A arte salva, sim — mas a saúde salva primeiro. Quando há vidas sendo perdidas por falta de atendimento, exames represados por meses até anos e mães esperando horas com filhos no colo em corredores superlotados, o gasto com entretenimento de 24 horas parece um luxo que o povo pobre não pode pagar.

O cantor João Gomes, por exemplo, recebeu R$ 750 mil em um único show. Já a cantora Luísa Sonza levou R$ 600 mil. Valores dignos de grandes turnês privadas, pagos com dinheiro público em uma cidade onde moradores da zona leste, sul e extremo norte caminham quilômetros até encontrar uma unidade de saúde em funcionamento.

É possível — e necessário — investir em cultura. Mas é urgente investir em saúde. Uma cidade que prioriza o bem-estar da população deve equilibrar suas escolhas com responsabilidade social. Se cinco UBSs não cabem no mesmo espaço de uma Virada, que ao menos caibam no mesmo orçamento.

S&DS – Saúde & Direitos Sociais  – Em Defesa da Saúde