Federação entre PCC e CV? Entenda por que a aliança era insustentável
Apesar de uma trégua firmada no início do ano, a recente tentativa de aproximação entre o Primeiro Comando da Capital [PCC] e o Comando Vermelho [CV] não resistiu por muito tempo. A aliança entre as duas maiores facções criminosas do Brasil durou apenas dois meses e já chegou oficialmente ao fim — com direito a comunicados internos, os famosos “salves”, compartilhados em diferentes estados do país.
A breve união reacendeu o debate sobre as dinâmicas do crime organizado no país e levantou uma pergunta provocativa: e se PCC e CV funcionassem como uma espécie de federação, nos moldes de uma aliança partidária? A resposta, segundo analistas da segurança pública e investigações em curso, é direta: não daria certo.

Primeiro, porque nenhuma das facções aceitaria abrir mão da liderança. O modelo de uma presidência única — ou até mesmo dupla — seria impensável, dado o histórico de rivalidade e a estrutura de poder altamente hierarquizada de ambos os grupos.
Além disso, o desequilíbrio de forças é evidente. Enquanto o PCC possui presença consolidada em praticamente todos os estados do país, o CV mantém o domínio em áreas estratégicas, especialmente no Rio de Janeiro. Uma federação inevitavelmente diminuiria o peso do Comando Vermelho, que perderia protagonismo nacional frente à maior capilaridade do PCC.
A disputa entre as duas organizações é acirrada não apenas fora, mas também dentro do sistema prisional, onde travam batalhas pelo controle de alas e pela influência sobre outros detentos. Estados como Acre, Amapá e Alagoas estão entre os palcos dessa guerra silenciosa — mas constante.
A trégua selada em fevereiro, foi uma jogada estratégica articulada pelos advogados das lideranças. O objetivo? Pressionar o governo federal a revisar as regras do Sistema Penitenciário Federal [SPF], onde chefes das facções estão presos sob duras restrições. A ideia era, com a união temporária, atacar politicamente o SPF e tentar forçar a transferência das lideranças para presídios estaduais, onde o controle é mais fácil e a influência das facções, maior.
No entanto, a paz era de fachada. As diferenças estruturais e ideológicas falaram mais alto. Em abril, “salves” com tom definitivo decretaram o fim do armistício. Um comunicado do CV deixa clara a ruptura: “O PCC é nosso inimigo declarado. A guerra é sem fim, até a última gota de sangue.” O PCC, por sua vez, anunciou o rompimento de forma mais diplomática, dizendo que a decisão foi mútua, mas inevitável diante dos “pontos cruciais” que os dividem.
O Ministério Público de São Paulo [MPSP] confirmou a autenticidade dos comunicados e apontou que as mensagens circularam amplamente nas redes sociais, alcançando membros das organizações em diversos estados.
A tentativa de aliança, assim como uma possível “federação criminosa“, mostrou-se inviável e instável. Diferente das federações partidárias, que dependem de concessões mútuas e objetivos políticos comuns, o mundo do crime organizado se sustenta no domínio, na força e na ausência de confiança. E nesse universo, dividir o poder é uma ameaça — não uma solução.