Laura Bolsonaro, filha do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, e da ex-primeira-dama Michelle, foi uma estudante do Colégio Militar de Brasília (CMB)
Criadas sob o pretexto de excelência educacional, as escolas militares se apresentam como instituições públicas, mas, na prática, funcionam como espaços seletivos que favorecem filhos de militares e de famílias de alta renda.
Com mensalidades que ultrapassam R$ 1.200, essas escolas são mantidas com recursos públicos, mas seu acesso é restrito, garantindo vantagens em vestibulares e até no ingresso em cursos públicos de idiomas.
A origem desse modelo remonta a 1840, quando os militares propuseram a criação do “Colégio Militar do Imperador” para garantir educação diferenciada para seus filhos. A tradição se manteve e se fortaleceu, consolidando um sistema de ensino que, apesar de utilizar dinheiro público, prioriza alunos oriundos de classes sociais mais altas.
Cotistas privilegiados?
Além de contar com infraestrutura superior à maioria das escolas públicas, os alunos dos colégios militares usufruem de um benefício controverso: a possibilidade de disputar vagas em universidades por meio de cotas destinadas a estudantes da rede pública. Isso significa que jovens de famílias de classe A e B, que frequentam essas instituições seletivas, concorrem diretamente com alunos da rede pública tradicional, onde as condições de ensino são, em geral, muito mais precárias.
Esse privilégio se estende a outras esferas educacionais. Recentemente, servidores dos Centros Interescolares de Línguas [CILs] do Distrito Federal denunciaram que alunos dos colégios militares vêm recebendo prioridade nas vagas remanescentes dos cursos gratuitos de idiomas, como inglês, espanhol, francês e japonês.
Denúncias e silêncio oficial
O ex-secretário de Educação do DF, Rafael Parente, criticou essa prática, apontando que 70% dos estudantes das escolas militares pertencem às classes A e B, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [IPEA] de 2023.
“São jovens de famílias ricas, que já têm acesso a cursos de idiomas, e que agora tomam o lugar de quem realmente precisa”, afirmou Parente.
Diante da repercussão, a Secretaria de Educação do DF negou a existência de qualquer reserva de vagas para estudantes de escolas militares. No entanto, não respondeu especificamente às denúncias sobre o suposto favorecimento a esses alunos nos sorteios de vagas remanescentes nos CILs.
O modelo das escolas militares segue sendo vendido como uma solução para a educação pública, quando, na verdade, mantém um sistema de segregação e privilégios, ampliando as desigualdades no acesso ao ensino de qualidade. Afinal, até que ponto uma escola pode ser considerada pública se a maioria da população não tem acesso real a ela?