Editorial

Na quarta-feira (9), enquanto o mundo celebrava os avanços científicos revolucionários no campo da inteligência artificial e da biotecnologia, liderados pelos ganhadores do Prêmio Nobel, o Brasil, uma nação reconhecida por suas ricas contribuições culturais e científicas, continua fora da lista de laureados. Mas se houvesse um Prêmio Nobel para a Corrupção, é provável que o país liderasse a corrida, com décadas de práticas corruptas enraizadas desde o período colonial até os dias atuais.

Por mais que possa parecer irônico, o Brasil tem sido um “campeão” incontestável na arte da corrupção. Diferente dos avanços científicos de figuras como John Jumper e Demis Hassabis, que transformam o mundo para o bem, o Brasil vem aperfeiçoando, ao longo de sua história, mecanismos que favorecem a manutenção de uma corrupção sistêmica, capaz de corroer as bases da sociedade e de perpetuar a desigualdade. O país que gerou intelectuais de renome, como César Lattes, merecia ser conhecido por suas contribuições ao progresso global, mas tem a corrupção como seu estigma permanente.

A história da corrupção no Brasil remonta aos tempos coloniais. Já naquela época, a venda de cargos públicos, o nepotismo e a sonegação de impostos eram práticas comuns. Durante o Império, oligarquias se formaram, reforçando a utilização do poder público para beneficiar interesses privados, um padrão que persistiu durante a República Velha, onde o coronelismo e a manipulação das eleições eram a norma.

Esse legado não parou por aí. A República foi marcada por escândalos sucessivos, seja no caso PC Farias, durante o governo Collor, ou no mais recente escândalo do Petrolão, no governo Dilma Rousseff.

Operação Lava Jato
Manifestacao contra o PT e pelo impeachment da presidente Dilma Roussef, em Curitiba. Tag: Fora Dilma, Fora PT, protesto

Os desvios de recursos públicos são tantas vezes noticiados que o brasileiro parece ter desenvolvido uma espécie de “imunidade” ao choque moral. O combate à corrupção no Brasil é visto como um esforço de “enxugar gelo”, pois os culpados raramente enfrentam punições severas, perpetuando a cultura de impunidade.

A fraqueza das instituições, associada a um sistema político fragmentado e complexo, oferece o solo fértil para a corrupção florescer no Brasil. Enquanto nos laboratórios do exterior cientistas desenvolvem proteínas que podem salvar vidas, como David Baker, o sistema brasileiro cria “proteínas políticas” que protegem figuras corruptas por meio de acordos escusos, emendas parlamentares e alianças partidárias. Os corruptos têm o caminho livre para continuar suas práticas, respaldados por um emaranhado legal que dificulta investigações e punições.

Mensalão: Esquema de compra de votos no Congresso Nacional, que levou à cassação de diversos políticos.

A desigualdade social também desempenha um papel central nesse ciclo vicioso. As populações mais vulneráveis, dependentes de favores políticos, são exploradas através da compra de votos e do clientelismo, perpetuando a prática da corrupção. Além disso, o distanciamento entre o Brasil e a comunidade internacional, particularmente no que diz respeito à cooperação científica, cria barreiras ao avanço, não só na ciência, mas também na ética administrativa.

Se as práticas corruptas fossem levadas à mesa de uma avaliação para o Prêmio Nobel, o Brasil seria um candidato de peso. O país conseguiu, ao longo dos séculos, sofisticar esquemas ilícitos que desafiam a justiça e desmoralizam o sistema democrático. A pergunta que fica é: por que o Brasil não consegue vencer o Nobel da Ciência, da Paz ou da Literatura, mas tem todos os requisitos para liderar o pódio da corrupção?

Os cientistas que levam o Nobel, como Jumper e Hassabis, ajudam a salvar vidas com suas inovações. Já no Brasil, aqueles que poderiam desenvolver pesquisas que mudariam o futuro enfrentam um cenário de desinvestimento, concentração de recursos em poucos centros e falta de apoio internacional. Enquanto isso, a corrupção continua sendo nosso grande “prêmio”, premiando poucos à custa de muitos.

O Brasil, com sua cultura rica, seus cientistas talentosos e um potencial imenso, merece mais do que o título irônico de ganhador do “Nobel da Corrupção”. Mas, enquanto a impunidade for a regra e a corrupção uma prática quase institucionalizada, será difícil imaginar o país subindo ao palco em Estocolmo por motivos mais nobres. Resta-nos perguntar: será que algum dia teremos um país que, ao invés de figurar nas páginas policiais, brilhe nas manchetes pelos feitos extraordinários de seus cidadãos?