Brasileiro ostenta na internet, mas na hora do aperto, é vaquinha que salva: morte de goiana no Japão escancara contradição social

Foto: Reprodução/Redes sociais

Goiana morta no Japão: família pede ajuda para traslado e expõe contradição entre ostentação nas redes e falta de planejamento

As redes sociais brasileiras são uma vitrine de viagens internacionais, celulares de última geração, jantares sofisticados e carros importados. Para quem vê de fora, o brasileiro parece estar sempre com a vida ganha. Mas basta um imprevisto — especialmente longe de casa — para a fantasia ruir. E aí, o que sobra é o bom e velho pedido de ajuda: “gente, vamos ajudar. Vamos compartilhar a vaquinha.”

Foi o que aconteceu com Amanda Borges, goiana de 30 anos, encontrada morta no Japão após um incêndio. A jovem, que havia postado recentemente fotos no GP de Fórmula 1 e em pontos turísticos asiáticos, teve sua imagem amplamente divulgada nas redes – agora não para ostentar, mas para comover. A família corre contra o tempo para arrecadar cerca de R$ 78 mil e trazer o corpo de volta ao Brasil. Até o momento, já conseguiram R$ 20 mil, segundo uma amiga. O Gabinete de Assuntos Internacionais de Goiás prometeu contribuir com 30% do valor.

O episódio choca, entristece, mas também expõe uma verdade incômoda: vivemos uma cultura em que parecer bem é mais importante do que estar bem de verdade. Entre filtros e curtidas, poucos pensam em imprevistos, seguros ou planejamento para emergências. Quando a tragédia chega — e ela chega — é o coletivo que precisa agir.

O problema não está em viajar, nem em postar. Está em não ter estrutura para lidar com o básico quando a viagem termina em tragédia. Afinal, não é a primeira vez que vemos famílias recorrendo à internet para custear traslado de corpos do exterior. A vaquinha / ajuda virou um reflexo da nossa precariedade emocional, econômica e institucional. Um recurso emergencial que virou regra.

A morte de Amanda é profundamente lamentável. A dor da família é real e merece todo o apoio. Mas o caso serve de alerta para uma geração que se preocupa mais com o próximo “close” do que com a próxima conta. Porque, quando o filtro cai, é a vaquinha que mostra a verdade nua e crua.

Fica o alerta: Se você viaja com frequência, reside fora do país ou tem parentes em situação semelhante, informe-se sobre seguros de vida e assistência internacional. Em paralelo, é urgente que o Brasil fortaleça políticas públicas de suporte aos cidadãos no exterior, para que o luto não precise disputar espaço com a vaquinha.