Manifestação por “Anistia Já” promete ser pacífica, mas mobilização de grupos contrários acende alerta de tensão

Foto: Agência Brasil

Movimento convocado por Bolsonaro para o dia 7 de maio, em Brasília, preocupa autoridades; grupos organizam reações na UnB

Convocada para a próxima quarta-feira (7), às 16h, a manifestação “Anistia Já”, que partirá da Torre de TV, no centro da capital federal, carrega no nome a promessa de pacifismo — mas nos bastidores, o clima é outro. A mobilização, impulsionada pelas redes sociais do ex-presidente Jair Bolsonaro, já provoca reações de grupos contrários que se articulam dentro da Universidade de Brasília [UnB], e especialistas apontam o risco de confrontos.

Sem organização institucional definida, como foi em 8 de janeiro de 2023, o evento ocorre em um momento de crescente polarização no país. A pauta central — a defesa da anistia para os presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023reacende a divisão política e levanta temores de escalada verbal, física e depredamentos. 

Embora os organizadores insistam no caráter “pacífico e patriótico” do ato, como descrito nas postagens do ex-presidente, o próprio histórico recente de manifestações bolsonaristas, combinadas à movimentação de coletivos antifascistas e estudantis, indica um potencial de descontrole.

Grupos organizados que se opõem à pauta vêm realizando encontros na UnB desde que Bolsonaro anunciou a manifestação, conforme levantou S&DS. Um deles, que preferiu não se identificar, afirmou à reportagem que “não permitiremos que a cidade seja palco de impunidade travestida de liberdade de expressão“. Apesar de não revelarem se estarão fisicamente no ato, os organizadores afirmam estar “prontos para reagir”.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do DF disse que acompanha a situação e montará um esquema preventivo, mas não confirmou se haverá reforço policial específico ou divisão de grupos na Esplanada. 

Especialistas em segurança pública veem com preocupação o ambiente. “A convocação em torno de um tema polarizador, somada à mobilização de grupos adversários em espaços universitários, como a UnB, é um indicativo de tensão. Ainda que o objetivo seja pacífico, o cenário é inflamável”, afirma a cientista política Raquel Arraes, da UnB.

O Ministério Público do Distrito Federal, por sua vez, não confirmou se abrirá procedimento preventivo. Internamente, há receio de que a manifestação se torne palco de provocações e tumultos, como já ocorreu em atos anteriores ligados ao ex-presidente.

A manifestação ocorre ainda sob o pano de fundo do julgamento de réus do 8 de janeiro no Supremo Tribunal Federal, que já condenou mais de uma centena de pessoas pelos ataques aos Três Poderes. A pauta da “anistia” é vista como uma afronta direta às decisões judiciais e à própria estabilidade democrática, segundo críticos.

Se confirmada a presença de grupos rivais, a promessa de “anistia com paz” pode se transformar num novo capítulo de confrontação política nas ruas de Brasília — o que resta saber é se as autoridades estarão preparadas para evitar que o cenário saia do controle novamente.