“Moraes ao Washington Post: ‘Não há chance de recuar um milímetro’ — recado também a Trump”

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O ministro Alexandre de Moraes, relator das ações sobre a tentativa de golpe que buscou manter Jair Bolsonaro no poder após as eleições de 2022, afirmou que “não há a menor possibilidade de recuar nem mesmo um milímetro” na condução do caso.

A declaração foi dada em entrevista rara a correspondentes internacionais. O perfil, assinado por Marina Dias e Terrence McCoy, foi publicado nesta segunda-feira (18) pelo jornal norte-americano The Washington Post.

“Vamos fazer o que é certo: receber a denúncia, analisar as evidências, e quem tiver de ser condenado será condenado; quem tiver de ser absolvido será absolvido”, disse Moraes, segundo a publicação.

O Post descreve o ministro como um magistrado de embates diretos com os poderosos, alguém que parece adotar como lema pessoal a máxima: “nunca desista, sempre avance”. Em outro trecho, Moraes reforça “com tranquilidade” que não há espaço para hesitação entre os ministros do Supremo. Para ele, o país foi contaminado por uma doença “autoritária” e cabe ao tribunal aplicar a “vacina”.

O perfil é resultado de entrevistas com 12 pessoas próximas ao ministro, entre amigos e colegas — a maioria sob anonimato. Para alguns, suas decisões duras foram determinantes para preservar a democracia brasileira diante da escalada global do autoritarismo. Outros, porém, avaliam que seu estilo combativo ultrapassa limites e ameaça a legitimidade institucional do Supremo.

O jornal afirma que Moraes construiu uma reputação internacional incomum como “xerife da democracia”, por conta de decisões de alcance inédito em temas como liberdade de expressão, tecnologia e poder estatal. Entre os exemplos citados está a ordem de prisão domiciliar contra o ex-presidente Bolsonaro, decretada no início de agosto.

Sanções dos EUA

A reportagem também relembra as sanções impostas ao ministro durante o governo de Donald Trump. O então presidente norte-americano justificou tarifas adicionais sobre produtos brasileiros e a suspensão do visto de Moraes e de seus familiares acusando-o de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro. A Casa Branca chegou a acionar a Lei Magnitsky, instrumento usado para punir violações de direitos humanos no exterior.

Moraes atribui essas medidas a “fake news” difundidas nas redes sociais e por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente. “O que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas”, declarou.

O julgamento

O processo em que Bolsonaro e sete aliados são réus por tentativa de golpe de Estado será julgado a partir de 2 de setembro pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, composta por Moraes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Flávio Dino e Cármen Lúcia.