796 bebês mortos encontrados escondidos em fossa séptica em casa de mães solteiras administrada por freiras

O horror no poço: escavações na Irlanda revelam possível cemitério clandestino de 796 bebês em lar de mães solteiras administrado por freiras

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Tetiana Dolganova

Por décadas, o silêncio encobriu uma das maiores tragédias da história recente da Irlanda. Agora, escavações estão desenterrando o que o país – e o mundo – preferiram esquecer.

Autoridades irlandesas começaram nesta semana a escavar uma antiga fossa séptica na cidade de Tuam, no Condado de Galway, onde acredita-se estarem enterrados, de forma clandestina, os restos mortais de até 796 bebês e crianças. Os corpos seriam de vítimas do Lar Materno-Infantil Bon Secours, uma instituição administrada por freiras católicas e voltada ao acolhimento – ou à punição – de mulheres grávidas fora do casamento.

Entre 1925 e 1961, o local funcionou como um abrigo forçado. Jovens mães solteiras, muitas vítimas de estupro, eram levadas ao lar para dar à luz e, depois, forçadas a trabalhar por um ano em regime de servidão. Seus filhos eram arrancados de seus braços e criados pelas freiras, muitas vezes entregues à adoção sem qualquer consentimento das famílias.

A investigação só ganhou fôlego em 2014, graças ao trabalho da historiadora local Catherine Corless, que revelou a existência de registros de 798 crianças mortas no local – mas com apenas dois enterros oficiais em cemitério. O restante? Desaparecido. A principal hipótese: os corpos teriam sido despejados em uma fossa séptica da instituição, um espaço que passou a ser conhecido como “o poço”.

Hoje, o local é ocupado por um conjunto de apartamentos modernos, construído sobre as ruínas do que foi o Bon Secours, demolido em 1971. Mas as memórias – e agora os ossos – insistem em voltar à tona.

“Não me importa se encontrarem um dedal de osso… com seis meses de idade, é mais cartilagem do que esqueleto”, disse à Sky News Annette McKay, cuja irmã estaria entre as vítimas. A mãe de Annette, Margaret “Maggie” O’Connor, deu à luz após ser estuprada aos 17 anos. Seis meses depois, a bebê, Mary Margaret, morreu. A mãe só soube da morte quando uma freira se aproximou durante a lavagem de roupas e lhe disse, friamente: “o filho do seu pecado está morto”.

Uma rede de abusos silenciada por décadas

O caso do Bon Secours é apenas a face mais visível de uma rede de opressão institucionalizada na Irlanda do século 20. Mães que reincidiam em ter filhos fora do casamento eram enviadas às infames Lavanderias Magdalene, onde passavam o resto da vida enclausuradas e trabalhando sem remuneração. Essas instituições, embora geridas por ordens religiosas, contaram com apoio e financiamento do Estado irlandês por décadas.

Originalmente destinadas a “reformar” mulheres em situação de prostituição, as lavanderias passaram a receber também vítimas de estupro, incesto, órfãs, meninas abandonadas e consideradas “perigosas” por sua simples existência.

A última lavanderia só foi fechada nos anos 1990. A ferida, no entanto, permanece aberta.

Desculpas oficiais e compensações

Diante das revelações, o governo da Irlanda pediu desculpas públicas em 2014 e, em 2022, implementou um programa de compensações. Até hoje, mais de US$ 32 milhões foram pagos a 814 sobreviventes. As ordens religiosas, no entanto, se recusaram a contribuir com os pagamentos, mesmo diante dos apelos das vítimas e do próprio Ministro da Justiça.

Agora, com o início das escavações forenses em Tuam, espera-se que, em até dois anos, os restos mortais das crianças possam ser identificados e receber sepultamento digno. Para muitas famílias, é o primeiro passo rumo à justiça – ainda que tardia.

“A terra está falando”, resume Annette McKay. “Agora é nossa vez de ouvir.”