Entre absolvições, anulações e memórias curtas, antigos personagens da política brasiliense voltam a testar os limites da paciência e da consciência do eleitorado. Gim Argello, José Roberto Arruda, Agnelo Queiroz e Júnior Brunelli — nomes associados a alguns dos episódios mais marcantes da história recente do Distrito Federal —, se movimentam para 2026 como se o tempo tivesse apagado tudo o que já se viu, ouviu e condenou.

Brasília sendo Brasília. A cidade que já viu malas, caixas e orações em torno do dinheiro público agora presencia o retorno dos mesmos rostos, embalados por promessas de “renovação e “gestão eficiente. O palco é o mesmo, só o figurino mudou.
Os novos planos das velhas raposas
Nos bastidores, as articulações seguem discretas, mas firmes. Gim Argello, ex-senador condenado na Lava Jato e posteriormente beneficiado por decisão judicial que anulou a sentença, foi apontado como coordenador de campanha. Ao lado dele, Domingos Lamoglia — ex-conselheiro — deve assumir a tesouraria. O partido Avante deve ser comandado por Carol Fleury, com Daniel Radar na vice-presidência.
Arruda, por sua vez, tenta retornar ao comando de um partido. Conversas com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, indicam que ele deve assumir a sigla no DF em 2026 — movimento que empurrará Paulo Octávio e seu filho para fora do partido.

Enquanto isso, Agnelo Queiroz, ex-governador condenado por improbidade no caso do superfaturamento do Estádio Nacional Mané Garrincha, tenta reconstruir sua imagem política com um discurso de “experiência administrativa” e “trabalho pelo povo”.
E, para completar o enredo de ironia política, Júnior Brunelli — o ex-deputado protagonista da célebre “oração da propina” — também reaparece no tabuleiro, buscando espaço para voltar à Câmara Legislativa.
O eleitor e o espelho
O retorno desse grupo à cena pública é mais do que uma articulação partidária. É um teste moral. Um espelho voltado ao eleitor brasiliense: o que aprendemos com as décadas de escândalos, prisões e absolvições?
A democracia permite o perdão, mas não obriga o esquecimento. Quando os mesmos nomes retornam à disputa como se o passado fosse apenas um detalhe, o voto se transforma em sentença. E o eleitor, em cúmplice.
Entre o cansaço e o conformismo
É curioso observar como o discurso da “experiência” se repete. Em nome da governabilidade, reciclam-se promessas, alianças e rostos. O tempo passa, as biografias se reescrevem, e o poder segue orbitando em torno das mesmas figuras — como se Brasília tivesse sido condenada a viver em looping político.
Os que já foram presos, cassados ou afastados agora se apresentam como gestores experientes, defensores da ética e arautos da eficiência. O que muda é apenas a maquiagem — o roteiro, infelizmente, é o mesmo.
O perigo da memória curta
A “República dos Condenados” aposta novamente na memória curta do eleitorado. E talvez esteja certa: no Brasil, o esquecimento é o melhor cabo eleitoral.
Mas há um limite entre a absolvição jurídica e o perdão moral. E quando a sociedade confunde as duas coisas, abre-se espaço para que o absurdo se torne normal.
Se esses nomes voltarem ao poder, não será apenas uma vitória pessoal de cada um deles — será uma derrota coletiva. Porque, quando o crime retorna às urnas travestido de esperança, o voto deixa de ser um ato de cidadania e se transforma em cumplicidade.





