A reação protocolar do Partido Liberal [PL] à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, escancarou algo que já circulava nos bastidores de Brasília: Valdemar Costa Neto não pretende afundar junto com o ex-presidente.
A nota oficial divulgada pela sigla, assinada pelo próprio Valdemar, foi curta, emocional e politicamente irrelevante. Nenhuma defesa jurídica robusta, nenhum ataque articulado ao STF, nenhuma promessa de mobilização. Apenas um desabafo pessoal, mais próximo de uma legenda de Instagram do que de um posicionamento partidário diante da maior ofensiva institucional contra um ex-presidente da República desde a redemocratização.
Não foi à toa que a reação interna veio em segundos. O deputado federal Gustavo Gayer [PL-GO], um dos nomes mais estridentes da ala bolsonarista, classificou o comunicado como “imbecil” e cobrou um tom mais duro. Outros parlamentares, em off, foram além: disseram que Valdemar está “lavando as mãos”.
A verdade é que o dirigente do PL nunca foi, de fato, um entusiasta ideológico de Bolsonaro. Seu apoio ao ex-presidente sempre foi pragmático, comercial — uma associação calculada, que trouxe votos, bancadas robustas no Congresso e acesso ao fundo partidário bilionário. Mas agora, com Bolsonaro cada vez mais encurralado juridicamente e politicamente tóxico, o que era aliança vira peso.
Valdemar já vem, discretamente, preparando o terreno para o pós-Bolsonaro. Fala em “pluralidade interna”, acena para o centrão, negocia espaço em governos estaduais e mantém distância de movimentos golpistas. A nota tíbia de segunda (4) não foi um erro de comunicação: foi um recado deliberado.
Nos bastidores, lideranças do PL sabem que o futuro eleitoral da legenda não pode depender de um inelegível com tornozeleira eletrônica. O partido quer preservar o capital político que conquistou e, se necessário, até reconfigurar sua identidade — ainda que isso signifique romper, aos poucos, com a militância mais radicalizada.
A prisão de Bolsonaro, mais do que um evento jurídico, impõe um dilema estratégico ao PL. E Valdemar, experiente em sobreviver a todos os ventos de Brasília, já fez sua escolha: não vai até o fim com quem já começou a cair.




