O mito da dupla vitória: por que a tese de Bia Kicis pode entregar o Senado à esquerda

Foto: Bia Kicis (PL-DF)
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Tetiana Dolganova

A cada eleição em que duas vagas ao Senado estão em disputa, reaparece a ilusão de que um único partido poderia conquistar ambas. No Distrito Federal, isso nunca ocorreu — e não há indicativo de que 2026 será a exceção.

Ainda assim, a deputada federal Bia Kicis [PL-DF], presidente da sigla no DF, insiste em afirmar que o partido deve lançar duas candidatas ao Senado: ela própria e Michelle Bolsonaro. “Vejo essa movimentação de forma negativa. E o que posso afirmar é que o PL no DF tem duas candidatas ao Senado: eu e Michelle”, declarou recentemente, ao criticar articulações envolvendo PP, Republicanos e MDB na chapa majoritária.

O problema da tese de Bia é simples: ignora a realidade histórica e política do DF. Desde a criação de Brasília, quando duas cadeiras estiveram em jogo, os eleitores sempre dividiram seus votos entre partidos distintos. Em 2014, por exemplo, José Reguffe (PDT) e Gim Argello (PTB) saíram vitoriosos. Nenhum partido jamais conseguiu eleger dois senadores de uma só vez.

A posição de Ibaneis Rocha

Nesse tabuleiro, um nome já surge como praticamente consolidado para ocupar uma das vagas: Ibaneis Rocha (MDB). Governador reeleito do DF, Ibaneis tem conseguido manter alto nível de governabilidade, entregando obras, programas sociais e investimentos em infraestrutura que reverberam positivamente junto ao eleitorado.

Nos bastidores, a leitura é que Ibaneis tem cacife para liderar a disputa ao Senado em 2026, especialmente pelo apoio que pode reunir de partidos do centro político e pela máquina administrativa que conduz. Em outras palavras: uma das duas vagas já parece destinada a ele.

Onde erra Bia Kicis

Bia, ao tentar forçar a barra para duas candidaturas do PL, não apenas desafia a aritmética política do DF, mas arrisca entregar de bandeja a outra cadeira ao campo da esquerda, que virá munida de estrutura federal e do prestígio do presidente Lula.

Enquanto Michelle Bolsonaro aparece bem posicionada em pesquisas iniciais, Bia não demonstra o mesmo potencial de votos. Sua estratégia, portanto, não é de fortalecimento, mas de risco: dividir o eleitorado de direita, fragilizar a aliança majoritária e abrir espaço para que a oposição garanta a segunda vaga.

Celina Leão

Outro ponto que chama atenção é a contradição em suas próprias palavras. Bia diz querer apoiar Celina Leão (PP) ao Governo do DF, mas ao mesmo tempo tenta monopolizar as vagas do Senado para o PL. Apoiar uma chapa majoritária significa negociar espaço — e não impor condições irreais.

Ao insistir em um projeto pessoal e numa “unanimidade burra”, como classificam aliados reservadamente, Bia pode acabar isolando-se dentro do próprio partido e gerando fissuras que só fortalecem adversários.

Conclusão

A história ensina que Brasília não elege dois senadores do mesmo partido de uma só vez. A conjuntura atual indica que Ibaneis Rocha já está bem posicionado para assegurar uma das cadeiras. A outra dependerá da capacidade de articulação da direita — ou da habilidade da esquerda em explorar a vaidade e a insistência de lideranças como Bia Kicis.

Se prevalecer a leitura míope da presidente do PL no DF, o que deveria ser uma eleição favorável à direita pode acabar como um presente inesperado para Lula.