Governo Arruda, 16 anos depois: só Eurides Brito chegou ao purgatório — os demais continuam na fila de espera

Governo Arruda, 16 anos depois: só Eurides Brito chegou ao purgatório — os demais continuam na fila de espera

Redação S&DS 

Quase 16 anos após a explosão da Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em 27 de novembro de 2009, o Distrito Federal segue convivendo com os ecos de um dos maiores escândalos políticos da sua história. E, ironicamente, nesse tempo todo, apenas uma personagem do caso já está no purgatório — e não por causa das denúncias, mas porque o destino tratou de encerrar sua trajetória: a ex-deputada distrital Eurides Brito, falecida em 3 de fevereiro de 2025.

Eurides foi uma das figuras mais marcantes do escândalo. O vídeo que circulou à época, no qual aparece guardando maços de dinheiro na bolsa, virou símbolo de um modus operandi político que Brasília preferiria esquecer, mas com Arruda buscando voltar ao Palácio do Buriti, não temos como esquecer! Condenada em primeira instância em 2017 e novamente em segunda instância dois anos depois, ela carregava nas costas o peso de duas acusações: corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério Público do DF, recebeu propina do então governador José Roberto Arruda e do vice Paulo Octávio em troca de apoio político.

Agora, quase uma década e meia depois, enquanto Eurides está a explicar suas escolhas diretamente ao tribunal celestial, os demais personagens do enredo continuam por aqui — firmes, fortes e bem distantes de qualquer purgatório. A fila é longa, as instâncias são muitas e, como mostram os últimos 16 anos, Brasília tem um ritmo próprio quando o assunto é responsabilização.

A Operação Caixa de Pandora revelou, em 2009, uma rede de pagamentos clandestinos à base aliada do Governo do Distrito Federal. O caso levou à histórica prisão de Arruda em 2010, primeiro governador em exercício a ser detido no país. O impacto político foi devastador, mas seus desdobramentos práticos, passadas quase duas décadas, ainda parecem tímidos diante da dimensão do escândalo.

Enquanto isso, a memória coletiva do DF continua revisitando aqueles episódios cinematográficos — as meias estufadas, as orações suspeitas, as bolsas milagrosas — e se perguntando quando, afinal, o purgatório vai chamar os demais envolvidos para uma conversa séria. Porque, no fim das contas, se a justiça divina resolve mais rápido que a terrena, fica claro que o problema não é espiritual. É processual. É político. E é bem terreno.