Papa Leão reafirma: “Ninguém vem ao Pai senão por Cristo” — Vaticano rejeita ideia de “quadritindade” e corrige exageros da devoção a Maria?

Papa Leão reafirma: “Ninguém vem ao Pai senão por Cristo” — Vaticano rejeita ideia de “quadritindade” e corrige exageros da devoção a Maria
O papa Leão XIV colocou os pingos nos is sobre o papel que Maria, a mãe de Jesus, teria dentro da igreja?

Documento do Papa Leão 14 reforça que Jesus é o único Salvador e mediador entre Deus e os homens, e considera inapropriado o título de ‘corredentora’ dado a Maria.

“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém.” — e não “em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo e de Maria”.
Essa é a essência do novo documento do Papa Leão 14, publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, que reafirma o coração da fé cristã: a salvação e a reconciliação com Deus ocorrem exclusivamente por meio de Jesus Cristo.

A nota papal, intitulada Mater Populi Fidelis, retoma a doutrina expressa pelo próprio Cristo: “Ninguém vem ao Pai, senão por Mim” (João 14:6), afastando interpretações populares que colocam Maria em posição equivalente à Trindade. O texto rejeita o uso de termos como “corredentora” e pede prudência no emprego de “medianeira”, expressões que, segundo o Vaticano, podem obscurecer a centralidade de Jesus na fé cristã.

Para o Papa Leão 14, não há “quadritindade”. A Santíssima Trindade permanece composta apenas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo — sendo Maria, mãe de Jesus, a primeira discípula e mãe espiritual dos fiéis, mas jamais participante da natureza divina.

“É necessário evitar o perigo de ver a graça divina como se Maria se convertesse em uma distribuidora de bens espirituais em desconexão com nossa relação pessoal com Cristo”, afirma o texto.

Reajuste doutrinário, não “rebaixamento”

A decisão foi interpretada por alguns como uma tentativa de “rebaixar” a figura da Virgem Maria, mas teólogos esclarecem que o objetivo é recolocar Maria no seu verdadeiro papel bíblico — o de serva do Senhor, bendita entre as mulheres, mas subordinada ao Filho que ela mesma gerou.

“Não se trata de diminuir Maria, e sim de reafirmar que a redenção pertence unicamente a Jesus”, explica o teólogo Alberto Tasso, professor no Centro Universitário Adventista. “O documento exalta Cristo como único mediador e reafirma que Maria foi instrumento da graça, não fonte dela.”

Historicamente, o catolicismo desenvolveu uma forte devoção mariana, que, em alguns contextos, acabou atribuindo à mãe de Jesus uma função quase divina. A expressão popular “Maria passa na frente”, embora afetuosa, carrega a ideia de uma mediação espiritual que o novo documento adverte ser teologicamente incorreta.

“Maria pode até roga por nós, mas não salva. A salvação vem exclusivamente do sacrifício de Cristo na cruz”, reforça a antropóloga Lidice Meyer.

A correção da “mariolatria”

Desde o Concílio de Éfeso, em 431, Maria foi reconhecida como Theotokos, “mãe de Deus”. Mas o Papa Leão 14 lembra que essa designação não a coloca acima da humanidade, nem lhe concede participação na natureza divina. O documento adverte contra uma “mariolatria” — isto é, a tendência de elevar Maria a um papel que compete apenas a Deus.

“Alguns segmentos maximalistas chegaram a propor uma nova doutrina que tratava Maria quase como uma quarta pessoa divina”, comenta o teólogo Gerson Leite de Moraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “O Papa apenas corrige esse desvio e reafirma que não existe uma ‘quadritindade’. A Trindade é indivisível: Pai, Filho e Espírito Santo.”

Unidade entre os cristãos

Especialistas também veem no texto uma tentativa de aproximar o diálogo entre católicos e evangélicos, frequentemente divididos pela forma como Maria é venerada.
“O documento é profundamente ecumênico”, avalia o teólogo Vinícius Paiva, membro da Academia Marial de Aparecida. “Ao reforçar que Cristo é o único mediador, o Vaticano abre uma ponte de entendimento com as igrejas reformadas, que sempre sustentaram essa verdade bíblica.”

Paiva explica que a nota não interfere na piedade popular, mas pede que a linguagem mariana seja usada com mais precisão e respeito doutrinário. “Maria continua sendo mãe do povo fiel, modelo de fé e obediência. Mas sua função é apontar para Cristo — nunca substituí-lo.”

Devoção com doutrina

A mensagem de Leão 14 é clara: Maria não redime, não intercede de forma autônoma e não antecede Cristo em nada.
A devoção mariana deve ser mantida dentro dos limites da fé apostólica, em que Maria é honrada como a serva fiel do Senhor, e não como corredentora.

“Quem ainda insiste em vê-la como mediadora absoluta ou distribuidora de graças independentes de Cristo precisa lembrar o que o próprio Jesus disse: ‘Ninguém vem ao Pai, senão por Mim’”, conclui o teólogo Darius.

Em outras palavras, Maria assim como outros cristãos verdadeiros apontam o caminho — mas o Caminho só é Cristo.