Lembre-se: votar em Arruda é voltar para um casamento ruim que deu tudo errado

Lembre-se: votar em Arruda é voltar para um casamento ruim que deu tudo errado
José Roberto Arruda
Украина с любовью
Tetiana Dolganova

Por mais que tentem dourar a pílula, 2026 traz de volta um fantasma que muitos brasilienses juraram ter superado: José Roberto Arruda. Depois de mais de 15 anos de afastamento forçado por inelegibilidade, o ex-governador ensaia um retorno à cena política como quem bate na porta da ex-cônjuge pedindo “mais uma chance”, como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu — e muito. E Brasília ainda sente o peso dessa história mal resolvida.

Em política, certas comparações são inevitáveis. E a mais adequada, neste caso, é a matrimonial. Votar em Arruda, em 2026, seria como reatar com aquele ex-parceiro que jurou amor eterno enquanto traía a confiança da família inteira. O tipo de relacionamento tóxico em que a pessoa – narcisista – promete que “mudou”, mas todo mundo sabe que foi justamente essa pessoa que transformou a casa em um campo de guerra.

É impossível dissociar a imagem de Arruda do escândalo que entrou para a crônica da vergonha política nacional: a “farra dos panetones”. O caso revelado em 2009 mostrou um esquema de corrupção travestido de caridade natalina — uma fraude que, à época, chocou o país e marcou para sempre o imaginário político do Distrito Federal. Flagrado recebendo dinheiro ilegal Caixa de Pandora, Arruda tentou, desajeitadamente, justificar o montante dizendo se tratar de “doações” para comprar panetones e pães para famílias carentes. Foi o suficiente para transformar um símbolo natalino em motivo de piada e constrangimento coletivo.

Hoje, mais de uma década depois, a narrativa tenta se reinventar. Mas como num casamento fracassado, não adianta trocar as fotos de porta-retrato: as cicatrizes permanecem. O passado não se apaga porque o marketing quer, e a confiança não se reconstrói com discursos ensaiados. Brasília já viveu essa relação abusiva — promessas encantadoras, discursos sedutores, estratégias cuidadosamente montadas… e, por trás de tudo, a corrosão moral.

Alguns dirão que todos merecem perdão. Mas perdão não é sinônimo de esquecimento, tampouco de imprudência. Perdoar é virar a página; votar é entregar a chave da casa — de novo. E ninguém que tenha passado por um casamento que deu errado precisa ser lembrado da dor de repetir o erro. Reatar por carência ou nostalgia nunca termina bem.

Enquanto o Distrito Federal luta por transparência, ética e estabilidade, a possível volta de Arruda soa como aquele telefonema inoportuno às duas da manhã: “Podemos conversar?”. A resposta madura, responsável e necessária é simples — e definitiva: não.

Porque em política, assim como na vida, aprender com os próprios tombos é o primeiro passo para não cair novamente no mesmo abismo.