Antigos aliados de conveniência ressurgem com discursos messiânicos e promessas tardias à população mais pobre do DF

A política brasiliense parece ter um roteiro próprio de reedições. Após anos de afastamento e silêncios seletivos, José Antônio Reguffe e Paula Belmonte voltam a dividir o mesmo palco — desta vez, sob a bandeira do reencontro e da moralidade. Mas, nos bastidores, o enredo tem outro nome: sobrevivência política.
A reaproximação, anunciada com vídeos cuidadosamente produzidos para as redes, soa mais como ensaio eleitoral do que como convergência de ideias. Reguffe, outrora símbolo da antipolítica e do voto de protesto, tenta retomar o fôlego após anos longe das urnas e do POVO. Paula, ex-deputada federal e socialite que tentou se notabilizou por discursos de “moral e bons costumes”, busca um novo espaço político em meio aos pobres.
O discurso que agora os une apela à simplicidade, à fé e à defesa dos “mais pobres”. Ironia à parte, trata-se de um público que ambos ignoraram durante seus mandatos, distantes das feiras, dos transportes públicos e do cotidiano das periferias. Hoje, com as eleições no horizonte, o tom messiânico volta à cena: falam em “justiça social”, “família”, “Deus” e “valores”, como se a retórica bastasse para apagar anos de ausência.
A “aliança” — que alguns classificam de fisiológica, e outros, de oportunista — tenta se sustentar no discurso de renovação. Mas, na prática, traduz o velho método de quem precisa se reinventar para continuar re$pirando politicamente.
Nos corredores de bastidor, aliados descrevem a movimentação como “um aceno desesperado a um eleitorado que já não se emociona com boas intenções”. Há quem diga que Reguffe, com sua imagem desgastada de político que “não faz política”, busca emprestar à ex-deputada o que ainda resta de seu capital simbólico. Paula, por sua vez, tenta capturar o eleitor órfão da chamada “nova política”, prometendo o que o velho discurso já não entrega: credibilidade.
Enquanto isso, nas ruas e nos transportes lotados, o eleitor que vive o dia a dia das classes C, D e E observa o movimento de longe — talvez com o mesmo olhar de quem vê um filme repetido demais. Afinal, de velhas boas intenções e promessas, o DF já está vacinado.




