Adeus aos “líderes comunitários”: a nova geração de representantes locais que articulam mudanças reais nos territórios

O Dia Mundial da Limpeza (World Cleanup Day) é uma ação global que acontece anualmente em um sábado de setembro para conscientizar a população sobre a poluição do lixo e promover a limpeza de espaços públicos.

Durante décadas, o termo “líder comunitário” foi sinônimo de respeito e representatividade. Era ele quem abria as portas das repartições públicas, levava demandas de bairros esquecidos e intermediava o diálogo entre população e governo.

Mas o tempo passou — e com ele, mudaram também as formas de participação social. Hoje, o título de “líder comunitário” já não traduz a complexidade nem a diversidade das vozes que constroem o cotidiano das cidades e Regiões Administrativas, no caso do Distrito Federal.

Em muitas regiões do DF e do país, as antigas figuras de liderança deram lugar a representantes locais e articuladores comunitários — pessoas que, mais do que falar pela comunidade, atuam com ela. A diferença é sutil, mas profunda: o novo perfil não busca centralizar o poder, e sim fortalecer redes, conectar projetos e garantir que as decisões sejam tomadas de forma compartilhada.

Especialistas em políticas públicas apontam que o conceito de liderança comunitária, tão importante em um contexto de redemocratização, acabou cristalizando práticas hierárquicas. “O líder passou a ser visto como o único porta-voz de um território, quando na verdade as comunidades são compostas por múltiplas vozes, saberes e formas de organização”, explica a socióloga urbana Raquel Arraes.

Nos últimos anos, programas sociais, conselhos de saúde e projetos de cultura têm preferido expressões como “articulador comunitário”, “gestor territorial” ou “referência local”. Esses termos enfatizam a função de mediação e cooperação, afastando a ideia de personalismo político. Em vez de um único líder, o foco passa a ser o trabalho em rede, o protagonismo coletivo e a valorização de quem conhece o território de dentro.

Terra Não Será Destruida, Mas Aqueles que a Destroem Sofrerão as Consequências
Ação do portal S&DS no plantio de árvores com os jovens da Paróquia São Domingos Sávio no Riacho Fundo.

A mudança de linguagem reflete uma transformação de mentalidade. Ao reconhecer representantes locais e articuladores comunitários, a sociedade se aproxima de um modelo de participação mais horizontal, transparente e democrático. Afinal, a força das comunidades está menos em quem fala mais alto ou vive escrevendo em WhatsApp — e mais em quem consegue unir pessoas em torno de causas comuns que se concretizam em ações como um simples plantar e cuidar de uma árvore.