A Secretaria de Saúde do Distrito Federal [SES-DF] instaurou uma Tomada de Contas Especial para apurar o prejuízo causado pelo vencimento e descarte de 126.120 mil unidades de reagentes laboratoriais usados em exames de coagulação sanguínea, como TAP [Tempo de Atividade da Protrombina], TTPA [Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada] e Fibrinogênio. O desperdício, que pode ultrapassar R$ 200 mil em valores contratuais, ocorre apesar de a própria secretaria já ter identificado desde 2021 os riscos de vencimento de insumos e estabelecido fluxogramas para tentar evitar perdas.
Exames fundamentais para salvar vidas
Os três testes estão entre os mais importantes da rotina hospitalar.
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TAP é usado para avaliar a coagulação do sangue, essencial em cirurgias, emergências e acompanhamento de pacientes em uso de anticoagulantes.
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TTPA mede a eficácia de outra via da coagulação, sendo vital no diagnóstico de hemofilias e no controle de terapias com heparina.
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Fibrinogênio mede a proteína que ajuda a formar coágulos, sendo determinante em casos de sangramentos graves ou risco de trombose.
Sem esses exames, diagnósticos podem atrasar e pacientes ficam expostos a complicações sérias.
O tamanho do prejuízo
Os reagentes foram adquiridos pelo Contrato nº 088/2017, firmado com a empresa Labinbraz Comercial Ltda. e ainda vigente no sistema de compras da SES-DF. Pelos valores contratuais, cada unidade de TAP custava R$ 1,65 e cada unidade de TTPA, R$ 1,60. Aplicados às 126.120 unidades vencidas, o prejuízo estimado é de pelo menos R$ 206,5 mil – sem as devidas atualizações monetárias.
Esse valor é quase um quarto do contrato total, que girava em torno de quase R$ 1 milhão. A comissão instaurada agora terá 90 dias para identificar os responsáveis e quantificar oficialmente o dano ao erário.
Alertas ignorados desde 2021
O que mais chama atenção é que a SES-DF já havia se debruçado sobre o problema há quatro anos. Em 2021, uma série de despachos internos discutiu a necessidade de criar um fluxograma de risco de vencimento de insumos, justamente para evitar situações como a de agora.

Nos documentos, diretoras de enfermagem e de serviços alertaram que:
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muitas vezes o risco de vencimento não ocorre por queda de consumo, mas por compras acima da necessidade real ou falhas na programação de estoques;
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a responsabilidade pelo acompanhamento e pela destinação de insumos prestes a vencer era fragmentada entre áreas técnicas, SULOG e DLOG, sem clareza sobre quem deveria agir;
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era preciso avaliar doação antecipada de produtos para evitar perdas.
Um despacho de julho de 2021 foi ainda mais direto: “não é viável pré-estabelecer lista de produtos para análise, dada a diversidade de insumos e diferentes situações que resultam em risco de vencimento”, mostrando que a própria rede reconhecia a dificuldade de agir preventivamente.
Falha crônica de gestão
Apesar de todo esse histórico, a SES-DF não conseguiu evitar que um lote expressivo de reagentes para exames críticos fosse descartado em 2025. O caso revela que, mesmo após anos de alertas, a secretaria não conseguiu implementar de forma eficaz os mecanismos de controle de estoque.
Enquanto isso, pacientes enfrentam longas filas para cirurgias e exames, sem saber que reagentes caros e indispensáveis foram parar no lixo por má gestão administrativa.




