Enquanto Donald Trump reacende tensões comerciais globais com tarifas sobre importações estratégicas, nos bastidores o ex-presidente dos Estados Unidos constrói silenciosamente um verdadeiro império financeiro digital. O anúncio recente de que o Trump Media & Technology Group (TMTG) acumulou cerca de US$ 2 bilhões em bitcoin e ativos relacionados revela não apenas uma guinada estratégica da empresa, mas também um novo eixo de poder econômico para Trump — com implicações políticas profundas.
Segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira (18), as participações em bitcoin representam agora dois terços dos ativos líquidos da Trump Media, que tem ações listadas na Nasdaq sob o símbolo DJT — as iniciais do ex-presidente. O valor da participação de Trump na companhia já ultrapassa US$ 2,3 bilhões, segundo a Forbes, reforçando sua posição como um dos políticos mais ricos da história americana.
Esse novo “tesouro cripto” surge em um momento crítico. Nas últimas semanas, Trump voltou a defender abertamente políticas protecionistas, taxando produtos estrangeiros e ampliando sua retórica de guerra comercial. Enquanto isso, ele assina projetos de lei favoráveis às criptomoedas, como a Lei GENIUS, e nomeia cargos como um “czar cripto”, indicando sua intenção de transformar os EUA na capital global das criptos. A mensagem é clara: menos globalismo comercial, mais soberania financeira digital.
A mudança de postura do ex-presidente, que antes era abertamente cético em relação ao bitcoin, é acompanhada de movimentos empresariais bem calculados. A TMTG, que nasceu como dona da Truth Social — a rede social alternativa a plataformas como Twitter e Facebook —, passou a se reinventar como uma empresa fintech e de ativos digitais. Em 2024, lançou a marca Truth.Fi, captando US$ 250 milhões, e desde então firmou parcerias com players como Crypto.com, além de lançar ETFs e tokens próprios, como a moeda meme $TRUMP.
Outra peça importante é a World Liberty Financial, uma entidade de finanças descentralizadas ligada à família Trump, que já teria rendido cerca de US$ 500 milhões em lucros desde setembro de 2024. Embora as ações da DJT estejam, tecnicamente, em um trust administrado por Donald Trump Jr., críticos e especialistas em ética alertam que o ex-presidente permanece como beneficiário único e poderá acessar os ativos após deixar o cargo, em 2029.
Grupos como o Democracy Defenders Fund denunciam o conflito de interesses explícito: “Trump pode lucrar pessoalmente com as mesmas políticas que está promovendo como chefe de Estado”, aponta um relatório da entidade.
O movimento de Trump para dentro do universo cripto acontece, não por acaso, no mesmo período em que o bitcoin atinge sua máxima histórica, ultrapassando a marca de US$ 120 mil por unidade. Analistas preveem uma regulação mais amigável nos EUA e investidores institucionais avançam sobre o setor com volumes crescentes. A Trump Media, ao anunciar a formação de seu “tesouro de bitcoin”, surfou na onda e viu suas ações subirem até 9% na Nasdaq, em um único pregão.
“Estamos cumprindo com rigor nossa estratégia de tesouraria bitcoin. Esses ativos nos protegem contra a discriminação de instituições financeiras tradicionais e servirão de base para o nosso futuro token de utilidade”, declarou o CEO da Trump Media, Devin Nunes.
O ex-presidente dos Estados Unidos, ao que tudo indica, descobriu que o futuro do poder talvez esteja menos em tarifas alfandegárias e mais na arquitetura descentralizada da blockchain. E, ao mesmo tempo em que impõe taxas sobre o mundo, ergue com criptomoedas sua própria muralha financeira.





