
Num mundo em ebulição, onde as sociedades se reposicionam em torno da equidade, representatividade e pluralidade, algumas emissoras brasileiras parecem congeladas no tempo — não por falta de recursos, mas por opção editorial.
Enquanto a Rede Globo, com todos os seus problemas e contradições, avança em direção a uma televisão mais representativa e alinhada com o Brasil real, conglomerados como RecordTV, SBT, Band, RedeTV… continuam presos a um modelo televisivo excludente, monocromático e previsivelmente ultrapassado.
É quase grotesco assistir a essas emissoras reproduzindo um Brasil que não existe mais — ou que talvez nunca tenha existido fora dos seus estúdios. Elencos majoritariamente brancos, protagonistas de aparência europeia, repetições infindáveis de estereótipos raciais e de classe, ausência quase absoluta de pessoas negras em posições de destaque fora do humor caricato ou da cobertura policial. Esse é o retrato cristalizado de um país que elas insistem em pintar, mesmo que a janela do mundo escancare outra paisagem.
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A televisão, antes formadora de imaginários, se apequena quando falha em refletir seu público. O Brasil é preto, pardo, indígena, múltiplo — mas na dramaturgia e no jornalismo dessas emissoras, o protagonismo segue reservado a uma elite branca, urbana, de traços eurocêntricos, que habita um universo de conveniências e silenciamentos. Não se trata apenas de estética: é uma opção política. É escolher o privilégio do costume ao invés da transformação necessária.
No século XXI, com plataformas digitais dando espaço à voz de quem sempre foi calado, com o cinema, o teatro e o streaming se abrindo para outras narrativas, é inaceitável que veículos de concessão pública ainda operem segundo as lógicas de um país dos anos 1950. Emissoras como RecordTV, SBT, Band e RedeTV têm preferido ignorar o movimento do mundo, como se a audiência brasileira não estivesse mais consciente, mais exigente, mais vigilante.

A televisão aberta, se quiser sobreviver com relevância, precisa urgentemente rever seus modelos. Incluir não é favor, é dever. Representar não é lacração, é justiça. E resistir à mudança não é tradição, é retrocesso.
A Globo, mesmo sob críticas legítimas, entendeu — ainda que parcialmente — a direção dos ventos. As demais, se continuarem de costas para a realidade, terminarão como peças de museu: vestígios de um tempo onde a hegemonia branca decidia sozinha o que era o Brasil.




