Se Trump realmente se preocupa com Bolsonaro, por que ainda não ofereceu asilo político?

Foto: Reprodução da Internet.
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Tetiana Dolganova

Apesar das declarações públicas em defesa de Jair Bolsonaro, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, até agora não deu nenhum passo concreto para protegê-lo — como, por exemplo, oferecer asilo político.

A omissão é reveladora, especialmente diante da crescente pressão judicial sobre Bolsonaro no Brasil e da retórica constante de Trump de que o aliado estaria sendo perseguido politicamente. Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (16) mostra que 72% dos brasileiros consideram que Trump está errado ao impor tarifas ao Brasil com base nessa premissa de perseguição.

A ausência de uma oferta formal de proteção política pode indicar que, para os Estados Unidos, Bolsonaro não é a peça central do jogo. A retórica inflamada serve bem ao discurso populista de Trump e pode agradar a sua base eleitoral nos EUA, mas não necessariamente move os interesses estratégicos do país.

É possível que a real preocupação norte-americana esteja em outra esfera: o controle de dados, a regulação de plataformas digitais e os desdobramentos de políticas públicas que afetem diretamente empresas americanas, especialmente as big techs, como Google, Meta e Amazon.

Essas gigantes da tecnologia têm enfrentado, no Brasil, avanços regulatórios e ações judiciais que impactam seu modelo de negócios. O governo brasileiro, inclusive, tem discutido marcos legais que impõem responsabilidades às plataformas no combate à desinformação — medida que incomoda diretamente Washington, onde essas empresas mantêm forte influência sobre decisões políticas e econômicas. Nesse cenário, a retórica de apoio a Bolsonaro pode funcionar como cortina de fumaça para interesses muito mais profundos, relacionados ao poder digital e econômico dos EUA na América Latina.

Assim, a questão não é apenas por que Trump ainda não ofereceu asilo a Bolsonaro, mas por que essa hipótese sequer parece viável. A resposta talvez esteja em uma realidade mais pragmática: Bolsonaro é útil enquanto símbolo, mas descartável enquanto personagem central. O foco verdadeiro pode estar no campo invisível das redes e das plataformas, onde o poder norte-americano encontra hoje sua expressão mais sofisticada — e onde o Brasil representa um campo estratégico de disputas.