Inflação acima de 5% ao ano, dólar próximo de R$ 2, crescimento econômico um pouco mais robusto e taxa básica de juros acima dos 7,25% ao ano (mínima histórica) que vigoram atualmente – mas podendo recuar um pouco mais para os clientes bancários.
É assim que a maior parte dos economistas do mercado financeiro vê as perspectivas para o Brasil nos próximos quatro anos, entre 2013 e 2016. As previsões foram captadas pelo próprio Banco Central, que realiza pesquisa semanal com mais de 100 instituições financeiras. 
Inflação acima de 5% por sete anos
A economia brasileira terá inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acima de 5% por sete anos consecutivos, segundo a estimativa dos economistas do mercado financeiro.

Em 2010 e 2011, o IPCA somou 5,91% e 6,50%, respectivamente. Neste ano, segundo a própria autoridade monetária, deverá ficar em 5,2%. O mercado, porém, aposta em um pouco mais de inflação: 5,43%. Entre 2013 e 2016, a estimativa dos economistas dos bancos está em 5,42%, 5,30%, 5% e, novamente, 5%. 
“A inflação vai oscilar ao redor de 5% nos próximos anos. Esse é um problema que preocupa. Tivemos uma estabilização no nível de inflação [neste patamar]. A questão é saber porque que isso está acontecendo. A hipótese que deve ser testada é a influência da indexação na economia. A indexação formal de contratos a índices de preços está muito disseminada”, avaliou Heron do Carmo, especialista em inflação.
A indexação é o processo pelo qual o preço de um produto ou serviço é corrigido levando em conta a inflação passada. Isso faz com que essa correção seja “carregada” para frente, já que esse preço elevado vai pesar na inflação do período seguinte.
Segundo Heron do Carmo, os agentes econômicos estão acostumados, no Brasil, a não se assustarem com inflação. “Até hoje, 18 anos depois do Plano Real, contratam aluguel para dois anos e com um reajuste no meio, pelo IPCA ou IGP, o que for maior. No caso da escola, por exemplo, porque todo ano tem de reajustar?”, exemplificou. Também há, entre outros, os chamados “preços administrados” – que são tarifas públicas que sobem todos os anos.
PIB 2000 a 2011 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Expansão do PIB melhor
Se a inflação será mais alta, de acordo com o a expectativa do mercado, o crescimento da economia brasileira também deverá ser maior. Após “patinar” em 2011, com crescimento de 2,73%, e de ver a taxa de crescimento desacelerar para cerca de 1,5% neste ano, por conta da crise financeira internacional, a estimativa dos economistas é de relativa “bonança” no futuro. 

A previsão do mercado financeiro é de uma expansão da ordem de 4% ao ano entre 2013 e 2015. Para 2016, a previsão é de um crescimento um pouco menor, de 3,7%. Entre 2003 e 2012 (considerando a perspectiva de alta de 1,5% neste ano), o PIB cresceu acima de 5% em quatro oportunidades: 2004 (5,7%), 2007 (6,09%), 2008 (5,17%) e 2010 (7,5%). 
O economista da Mauá Investimentos, Rodrigo Melo, tem uma visão um pouco mais pessimista. Para ele, o crescimento da economia brasileira ficará em cerca de 3,5% em 2013, permanecendo entre 3% e 3,5% nos dois anos seguintes. “A gente tem uma visão de que o cenário global tende a ser muito ruim em termos de crescimento [impactando o Brasil]. Você tem uma contribuição, pela conta do comércio, não muito boa e há também reflexo na confiança dos empresários”, avaliou ele.
De acordo com a análise de Melo, o processo de baixo crescimento da economia mundial é “mais permanente do que as pessoas imaginam”. “O problema da dívida no mundo não vai se resolver em poucos anos. Tende a levar uma década. Os analistas, de maneira geral, têm revisado para baixo o cenário de crescimento, visto que essa noção de baixo crescimento tem aumentado nos últimos meses”, declarou. 
O economista da Mauá observou que o governo pode lançar mão de novos instrumentos para estimular a economia nos próximos anos por conta das eleições de 2014. “Pode ter algum estímulo a mais na economia. E tem a questão da Copa. São fatores que podem trazer algum crescimento, mas é um crescimento transitório”, afirmou.
Câmbio perto de R$ 2
Os dados do BC mostram que, segundo a expectativa dos analistas consultados, o dólar não deverá recuar para um patamar abaixo de R$ 2 até 2016 – oscilando sempre ao redor deste valor. Isso implicará, se confirmado, no encarecimento das viagens ao exterior frente ao patamar dos últimos anos. Isso porque dólar mais alto significa aumento no preço das passagens e hotéis no exterior.

Em 2010, o dólar oscilou ao redor de R$ 1,7. No primeiro semestre de 2011, a moeda norte-americana esteve cotada em um patamar mais baixo ainda, próxima de R$ 1,60, mas chegou a operar até um pouco abaixo disso, na casa dos R$ 1,50. No segundo semestre do ano passado, com a piora da crise, o dólar passou a oscilar próximo de R$ 1,80. 
No começo deste ano, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 1,85, mas, com as intervenções do governo federal no mercado de câmbio, atualmente já está acima de R$ 2. O encarecimento do dólar, promovido pelo governo, busca dar mais competitividade para as exportações brasileiras, que ficam mais baratas no exterior. 
Para Sidnei Moura Nehme, economista da NGO Corretora, especialista no mercado de câmbio, o dólar pode ficar, em 2013, acima do previsto pela maior parte do mercado. Para ele, o governo deve promover nova alta do dólar em breve, que deve passar a oscilar de R$ 2 a R$ 2,05 para um patamar entre R$ 2,05 e 2,10. O objetivo seria justamente de dar novos estímulos para o setor produtivo nacional – que, com o dólar mais valorizado, recebe mais por suas exportações. 
Para controlar o preço do dólar, o governo tem uma série de instrumentos. Além das compras e vendas de dólares no mercado à vista, o BC também pode operar no mercado futuro (por meio das operações de “swap” cambial tradicionais e reversas). O Ministério da Fazenda, por sua vez, pode utilizar as alíquotas do IOF para tentar controlar o ingresso de divisas no país – assim como foi feito no passado recente.
Taxa de juros
Após 14 meses de cortes consecutivos na taxa básica de juros da economia brasileira por parte do Banco Central, fixando-a em 7,25% ao ano (mínima histórica), os economistas dos bancos estimam um pequeno crescimento nos juros nos próximos anos. 

Arte Selic cai para 7,25% na reunião de 10 de outubro (Foto: Arte/G1)
A previsão é que, para controlar a inflação, a taxa definida pelo Banco Central oscilará entre 8% e 9% ao ano entre 2013 e 2016. Para o fim deste ano, a estimativa dos economistas dos bancos é de 7,25% ao ano – o que pressupõe manutenção do atual patamar até o fim de 2012. Para o fechamento de 2013, 2014, 2015 e 2016, a estimativa, para a taxa básica de juros da economia brasileira, está em 8%, 9%, 9% e 8,5% ao ano. 
Para o consumidor, porém, pode haver continuidade dos cortes de juros bancários. Isso porque os juros cobrados pelos bancos ainda são altos, comparados com outras economias, e porque as instituições financeiras públicas estão liderando os cortes para o consumidor – o que pressiona os bancos privados a serem um pouco mais agressivos também.
“A tendência de juros ao consumidor, mesmo com uma eventual interrupção de corte de juros básicos por parte do Banco central, é de queda. Há uma expectativa de queda da inadimplência, uma pressão do governo sobre os bancos públicos [para reduzirem suas taxas], e até mesmo porque os juros bancários ainda são altos no Brasil. Há gordura para queimar”, avaliou Miguel Ribeiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Em sua visão, o processo de corte dos juros bancários deve ser gradativo. “Acredito que esse processo vai ser gradativo. Acredito que ainda vai acontecer neste ano e no ano que vem”, declarou Miguel Ribeiro, lembrando que o governo também pode adotar novas medidas, no futuro, para incentivar o crédito, como reduzir o compulsório ou a tributação sobre estas operações – que também podem impactar os juros bancários para baixo. Fonte: G1.com.br