Reformed LiarQuando as pessoas mentem, tendem a não ser muito boas em fazer isso. Mas como saber se uma pessoa está mentindo, principalmente os políticos que são muito bons na pratica?

Os políticos mentirosos sempre irão ressaltar o fato central da situação, jamais vão explicitar o entorno, os detalhes menores do fato ocorrido ou praticado. Os mentirosos podem não se lembrar de tudo que disseram quando o relato é uma invenção, ao contrário; quando o fato é verdadeiro, os mínimos detalhes serão lembrados a qualquer tempo.

A análise também deve ir além das palavras e envolver uma leitura do comportamento do indivíduo.

Se em algum momento o político confrontado levanta a voz, ficar na defensiva, jurar, estiver sendo evasivo, está mentindo.

Todos esses movimentos corporais ocorrem inconscientemente quando se conta uma mentira ou se tenta enganar alguém:

[Onde estão seus olhos? Você mantém contato visual? Está nervoso? Fica batendo os pés? Batendo na mesa com os dedos? Fica olhando a porta? Os pés estão firmemente plantados no chão para sair rapidamente assim que possível? apontam especialistas.]

Naturalmente, há políticos que são bons em mentir. [“São politicopatas”] ou caso queiram sociopatas. 

Algumas personalidades assim não tem emoções humanas. Não sentem amor, nem culpa, nem compaixão. Chegam a jurar por Deus e seus filhos que estão falando a verdade.

É difícil detectar quando mentem. Curiosamente, a única coisa que conseguem manifestar é raiva: “Não me deixe furioso. Se ficar, vou te matar”, explica. É aí que pessoas assim podem se entregar. Quem está mentindo acredita que a melhor defesa é o ataque.

Vamos praticar nosso aprendizado no caso abaixo.

O senador José Roberto Arruda mentindo e admitindo sobre a violação do painel de votação do senado federal

O então senador Luiz Estevão (PMDB) rivalizava com o então senador José Roberto Arruda (PSDB) na política do DF e tinha antipatia do hoje finado senador Antônio Carlos Magalhães (PFL) desde a morte do seu filho, o deputado Luís Eduardo Magalhães.

Acusado de desviar verbas públicas, Luiz Estevão foi julgado e cassado pelo Senado Federal em 28 de junho de 2000 com 52 votos a favor, 18 votos contrários e 10 abstenções. Na época Arruda era líder do governo FHC e ACM presidente do Senado.

Na véspera da votação, a diretora do Prodasen, setor de informática do Senado Federal, Dra. Regina Célia Borges, foi ao apartamento do senador Arruda, que queria lhe fazer uma consulta pessoalmente. No encontro, Arruda pergunta se era possível saber o voto de cada senador na votação supostamente secreta que ocorreria no dia seguinte. Regina Borges nega esta possibilidade, mas depois de consultar outro técnico, Heitor Ledur, descobre ser possível.

No dia seguinte, a votação ocorre normalmente, de forma nominal pelo painel do Senado Federal. O técnico Heitor Ledur retira a lista com o nome de todos os senadores e como cada um votou.

A Dra. Regina Célia entrega a lista a Domingos Lamoglia, assessor do gabinete de Arruda, que a entrega ao chefe. De posse da lista, Arruda vai ao gabinete de ACM, onde conferem os votos e o cumprimento dos acordos feitos para viabilizar a cassação.

Meses depois, no dia 19 de fevereiro de 2001, Antônio Carlos Magalhães resolve visitar três procuradores, Eliana Torelly, Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza. Este último gravou a conversa. Sem saber que estava sendo gravado, ACM afirma que a senadora Heloísa Helena teria votado contra a cassação de Luiz Estevão e que sabia como cada senador votara.

A conversa é publicada pela revista IstoÉ na semana seguinte e o escândalo torna-se inevitável.

No dia 18 de abril daquele ano, logo depois de ser envolvido no escândalo, Arruda sobe à tribuna para negar com veemência qualquer participação ou conhecimento sobre a fraude. “Chega de leviandade!”, brada. Fala em honra, em seus filhos e em Deus. Depois do discurso ele comenta, “matei a pau”, achando que o caso logo se encerraria e ele sairia ileso.

No dia seguinte, 19, Regina Célia Borges presta depoimento ao Conselho de Ética transmitido ao vivo pela TV Senado. Regina confessa a culpa pela violação e confirma que obteve a lista dos votos a pedido de Arruda e por ordem de ACM. “Tenho plena consciência do futuro que me espera. Meu único caminho agora é falar apenas a verdade”, disse.

Mesmo sem mostrar qualquer prova, a ex-diretora do Prodasen convence a todos de que fala a verdade. “Se essa mulher estiver mentindo, é a melhor atriz do mundo”, afirmou o senador Amir Lando, do PMDB de Rondônia, logo depois o depoimento de Regina.

Arruda volta à tribuna no dia 23 de abril e confessa sua participação. Chora, se faz de vítima e tentar mostra o acontecimento como uma simples falha de comunicação. Disse que apenas perguntou se seria possível, mas não ordenou a tiragem da lista.

O conselho de ética aprovou relatório do senador Roberto Saturnino Braga por 10 a 5 pedindo a cassação dos mandatos de ambos os senadores no dia 23 de maio. No dia seguinte, 24, Arruda renuncia ao mandato para fugir da cassação.

Vamos ao segundo exercício com um certo grau de dificuldade. Verdadeiro ou falso?  

Se você não foi muito bem nos exercícios, recomendamos que fique longe das urnas eleitorais, afim de contribuir efetivamente com uma nação soberana, livre e igualitária.