As imagens feitas por celular mostram o momento em que o porteiro Sérgio Ricardo Santos chega ao Centro de Saúde do Recanto das Emas. Desacordado, ele é levado numa cadeira de rodas. Pouco depois, a morte dele é anunciada e a Polícia Militar é chamada para garantir a segurança dos funcionários por causa da revolta dos pacientes.

Um parente de Sérgio conta que, na última sexta-feira (13), o homem foi internado no Hospital da Asa norte com cálculo renal, mas foi liberado no mesmo dia. Nessa terça-feira (17), ele começou a sentir muitas dores. Ao chegar ao Centro de Saúde, não havia clínico geral.

“Eles falaram que não tinha médico e nós ficamos com o Sérgio dentro do carro. Quando eles viram que o caso era grave, apareceram com uma cadeira de rodas porque não havia maca. Pegaram ele e levaram para dentro do centro. Enquanto fechava o carro, eles anunciaram o óbito”, conta o auxiliar administrativo Salvador Santos da Silva.

“A enfermeira saiu com a maior ignorância dizendo que não havia médico. Ela falou que não era nem pra descer o homem do carro”, fala a vendedora Tatiana Silva Andrade.

Na madrugada de sábado, Maria de Lucas Barbosa da Silva morreu depois de passar quase uma semana internada esperando um leito na UTI. A família recorreu até ao Ministério Público, mas não adiantou.

“Quando ela deu entrada o médico já falou que era princípio de AVC. Ele simplesmente falou que ela poderia sair desse quadro e até melhorar, mas se tivesse um neurologista e uma vaga de UTI. Isso não apareceu”, denuncia a estudante Ângela Aparecida Barbosa, filha de Maria de Lucas.

O secretário-adjunto de saúde, Eduardo Guerra, disse que faltam médicos e que os salários são baixos. Além disso, afirmou que não pode haver aumento de gastos até as eleições. Por fim, admitiu que quem tem indicação política consegue furar a fila de atendimento na rede pública de saúde.

“Estamos num período eleitoral e enfrentamos a dificuldade de ter servidores que, em acordo com candidatos, muitas vezes, burlam a regulação, buscando atendimentos que furam a fila”, confessa Guerra.

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Júnior, acompanha de perto a situação do DF e diz que o processo de privatização do sistema público seria a causa desses problemas.

Ele diz que os salários dos médicos da rede pública no DF estão entre os melhores do país e que as eleições não impedem a contratação de novos profissionais. “Faz dois anos que estamos debatendo e denunciando a situação do DF. Estamos cobrando do Ministério da Saúde e da Justiça uma reação mais contundente. Realmente, não há como continuar dessa maneira”, destaca Francisco Júnior.

O presidente do Conselho Nacional de Saúde vai se reunir amanhã com a secretária de Saúde e cobrar explicações.

Albert Steinberger / João Carlos